http://www.usp.br/agen/?p=106097
Jornais repetem discurso pejorativo sobre professores
Valores reproduzidos constantemente na imprensa sobre professores, principalmente da rede pública de ensino, denigrem a imagem desses profissionais. Ao criticar a educação do Brasil, os veículos de comunicação não levam a discussão para as razões do ensino ter se tornado tão precário. Ao invés disso, criticam a atuação dos responsáveis pelo ensino, apontando para sua substituição por profissionais melhores, e não pela melhor formação dos que já estão lá. Esse fenômeno foi percebido por pesquisa da Faculdade de Educação (FE) da USP em revisão de diversas notícias sobre o assunto.
A jornalista Katia Zanvettor Ferreira, autora do estudo Quando o professor é notícia? Imagens de professor e imagens do jornalismo, analisou notícias de diversos jornais impressos do estado de São Paulo entre 2007 e 2011 e percebeu que estes veículos tendem a dar fórmulas para resolver o problema da educação. Dessa forma, tratam a questão de maneira simplória e evitam reflexão e confronto de opiniões. “É a saída reacionária da própria imprensa que direciona o debate da sociedade”, explica. “Minimiza o jogo democrático”.
Katia ressalta que paira sobre os textos dos grandes jornais uma identificação imaginária na temática do professor, ou seja, quem escreve toma o que em seu imaginário é uma verdade como sendo uma “verdade absoluta”. Assim, a tendência é que os textos procurem confirmar aquilo que os escritores acreditam e consideram verdade, sem abertura para posições divergentes. Aparecem nas matérias, dessa forma, uma repetição dos mesmos discursos.
Técnicas
Existem algumas formas de fazer jornalismo que se repetiram nos textos analisados no estudo, e contribuem para a visão prejudicial do professor. A utilização do especialista sobre educação como fonte absoluta é uma delas. A prática de um jornalismo investigativo, com entrevistas em profundidade, levantamento de dados e pesquisas buscando discutir as questões tratadas no texto são práticas cada vez mais raras na grande imprensa. Os jornalistas fazem perguntas superficiais apenas para confirmar aquilo que pressupõem e buscam conseguir falas de entendidos do assunto que justifiquem o seu próprio discurso.
Existem algumas formas de fazer jornalismo que se repetiram nos textos analisados no estudo, e contribuem para a visão prejudicial do professor. A utilização do especialista sobre educação como fonte absoluta é uma delas. A prática de um jornalismo investigativo, com entrevistas em profundidade, levantamento de dados e pesquisas buscando discutir as questões tratadas no texto são práticas cada vez mais raras na grande imprensa. Os jornalistas fazem perguntas superficiais apenas para confirmar aquilo que pressupõem e buscam conseguir falas de entendidos do assunto que justifiquem o seu próprio discurso.
Ainda em relação a entrevistas, nos textos utilizados pela pesquisa, não foi encontrado um princípio básico do jornalismo: buscar todos os lados da notícia. Os veículos de comunicação só apresentam o lado que concorda com a visão prejudicial do professor, sem falar com este ou com outro especialista que o vê de uma forma diferente.
Bandeiras históricas de movimentos sociais são utilizadas para comprovar a tese do veículo. Por exemplo, é quase um consenso entre o povo brasileiro que os salários de professores devem ser aumentados. Entretanto, os jornalistas colocam esse argumento em seus textos de forma excludente: os professores que trabalham hoje nas instituições públicas seriam mal preparados e, portanto, deveriam ser substituídos. Os substitutos, por serem mais competentes, deveriam ser melhor remunerados. Assim, no discurso jornalístico o movimento é de exclusão daqueles que estão no cargo agora, o que cria o reforço de um estereótipo do professor ruim.
O preconceito, segundo Katia, também faz parte das matérias jornalísticas que deturpam a imagem do professor. Ele, entretanto, disfarça-se num raciocínio que aparenta ser lógico. “Dizem que os professores vêm de classes populares e, portanto, são despreparados”. Não são apontados os problemas da preparação, apenas relacionam a incompetência com a origem social.
Pesquisa
A ideia para o estudo formou-se enquanto a jornalista analisava programas de utilizações de jornais no ensino em escolas. Durante esse trabalho, ela revisou diversos jornais, e acabou lendo muitas notícias relacionadas à educação. Então, percebeu nelas a presença dessa visão prejudicial sobre os professores. Não havia grande preocupação com a cobertura da educação e pouco interesse em assuntos particularmente importantes sobre situação dos profissionais do ensino, como greves. A pesquisa é a tese de doutorado da autora, na linha de pesquisa Linguagem e Educação da FE, e foi orientada pelo professor Aleksandar Jovanovic.
A ideia para o estudo formou-se enquanto a jornalista analisava programas de utilizações de jornais no ensino em escolas. Durante esse trabalho, ela revisou diversos jornais, e acabou lendo muitas notícias relacionadas à educação. Então, percebeu nelas a presença dessa visão prejudicial sobre os professores. Não havia grande preocupação com a cobertura da educação e pouco interesse em assuntos particularmente importantes sobre situação dos profissionais do ensino, como greves. A pesquisa é a tese de doutorado da autora, na linha de pesquisa Linguagem e Educação da FE, e foi orientada pelo professor Aleksandar Jovanovic.
Imagem: Marcos Santos / USP Imagens
Mais informações: email katia.zanvettor@gmail.com, com a pesquisadora Katia Zanvettor Ferreira