Os negros são desvalorizados nos meios de comunicação de massa?
Oracy Nogueira: Confesso que sinto um misto de indignação e de pesar quando vejo, na televisão, um cômico de cor a explorar, como fonte de hilaridade, alusões aos aspectos mais deprimentes e injustos do estereótipo corrente em relação ao negro, como o de ser este irresponsável, vagabundo, bêbado, e assim por diante. Quando vejo tais programas, não sei se minha maior indignação deve ser contra o ator negro que se dispôs a pagar um preço tão vil pela oportunidade de representar, ou contra a crueldade do produtor que dele exigiu esse desempenho. Enquanto outros grupos, como os judeus, estão sempre vigilantes para expurgar os programas teatrais, de rádio e de televisão de qualquer insinuação que reforce o estereótipo ou preconceito contra seu grupo, o negro é uma vítima inerte de programas que o ferem frequentemente com o conluio de membros de seu próprio grupo. Em parte, isso se dá porque, estando a maior parte da população de cor concentrada na camada menos favorecida, é dela que menos dependem as emissoras como fonte de anúncios. A gravidade dessa questão se torna ainda mais patente quando se tem em conta que os programas cômicos atraem, de um modo especial, as crianças e os jovens. A hilaridade e o ridículo são ótimos condimentos para a ingestão do preconceito.
Quais são os tipos de preconceito racial que existem?
Oracy Nogueira: Existem, basicamente, dois tipos, o preconceito de marca e o preconceito de origem. Onde existe o preconceito de marca, o que vale é a aparência física. A ideologia do preconceito de marca é assimilacionista e miscigenacionista, enquanto que o de origem é segregacionista e racista. No Brasil, onde predomina o preconceito de marca, a experiência decorrente do problema da cor varia com a intensidade das marcas e com a maior ou menor capacidade que tenha o indivíduo de contrabalança-la com outros característicos e condições, como elegância, talento, polidez, instrução, etc. Entre os próprios indivíduos de cor, há uma impressão generalizada de que é difícil levar a população negra a manifestações de solidariedade e de que, em geral, quando um preto ou mulato sobe socialmente, ele se desinteressa pela sorte de seus companheiros de cor, chegando mesmo a negar, com freqüência, a existência de preconceito. Nos Estados Unidos, a luta do negro, seja qual for sua aparência, é sobretudo uma luta coletiva. As próprias conquistas individuais são vistas como verdadeiras tomadas de novas posições em nome do grupo todo. E, em todo contato com pessoas brancas, mesmo nas organizações destinadas a combater as restrições raciais e a melhorar as relações entre diferentes minorias entre si e a maioria, o indivíduo de cor sempre assume um papel de representante vanguardeiro ou diplomata de seu grupo. Há esferas de atividades em que a discriminação é mais rígida, outras em que é menos rígida e outras ainda em que constituem esferas de trânsito mais livres para as pessoas de cor. Ela é mais rígida nas situações que implicam contatos íntimos e simétricos entre pessoas dos dois sexos e de diferentes idades, como, por exemplo, os clubes sociais. É notório, de outro lado, o sucesso de pessoas de cor em atividades como as esportivas, as musicais e, em geral as ligadas ao rádio e à televisão.
Como é possível resolver esse problema?
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